O caso Filó é mesmo sobre a Filó?

Muitos acusam o tutor de Filó de explorá-la para ganhos econômicos. A questão do tutor ser um influencer não diz nada sobre o estado da capivara. Ela está bem cuidada? Tem uma boa qualidade de vida? Suas necessidades básicas estão sendo atendidas? Ao que parece, o tutor faz de tudo para que Filó tenha uma boa vida – muito melhor do que teria se estivesse na natureza. Não lhe faltam comida, cuidados médicos e atenção emocional. Logo, o fato dele ser um influencer não diz nada sobre como Filó está sendo tratada. O que diz isso são as atitudes do tutor, que parece se preocupar genuinamente com Filó e lhe prover uma boa vida.

Quanto ao fato do tutor de Filó estar dando “um mau exemplo ao incentivar outras pessoas a adotar animais silvestres como pets”, esse é um salto lógico que não se comprova na prática. É o mesmo tipo de salto que se dá quando algumas pessoas afirmam que “a internet causa violência”. A violência já existia antes da TV, do rádio e da internet. Não há nada que comprove que esses meios criaram a violência. Elas são apenas mais uma plataforma para que o ódio e a violência se espalhe. O caso de Filó se apresenta da mesma forma: não existe relação direta entre exposição de animais nas redes sociais e a preferência das pessoas por esses animais. Sim, você pode comprovar uma correlação, mas é importante ressaltar que essa correlação só aponta para fatores que são anteriores às redes sociais: humanos sempre tiveram e sempre terão preferências por determinados animais. A capivara, por não temer contato com humanos, ser dócil e ser constantemente avistada nas cidades sempre foi alvo da empatia humana. Essa preferência pré-data a exposição de animais nas redes sociais.

 

Importante ressaltar que as redes também podem ser usadas no sentido inverso, desde a denúncia de maus-tratos até a exposição de como a vida dos animais na natureza é cheia de dor e sofrimento.

Quanto ao IBAMA estar cumprindo a lei, de fato, ele está cumprindo a lei. Mas é importante ressaltar alguns aspectos:

  • A lei não está gravada na pedra. Isso significa que ela está sujeita a interpretação. A lei é um guia de como agir. Não devemos matar, entretanto a lei cobre situações onde matar se configura um ato justificado. A lei está sujeita a interpretação de acordo com o caso (por isso existem juízes para atuas, e não um software que aplica a lei, literalmente);
  • Nem tudo que é legal é ético. Na Alemanha nazista, era perfeitamente legal a discriminação contra os judeus. Isso não torna tal discriminação ética. A lei que o IBAMA segue é, em sua essência, especista, pois os animais não são indivíduos cujos interesses devem ser respeitados. Os animais são meras peças que cumprem uma função dentro do ecossistema. Se os humanos fossem tratados da mesma forma, seria permissível matar milhões de humanos para que se fizesse ‘controle populacional’;
  • Como seguidor de um arcabouço jurídico especista, o IBAMA não leva em conta os interesses dos animais enquanto indivíduos. Na prática, isso significa que este órgão pode tomar ações cruéis, tais como apreender gambás e ao invés de ajudá-los a retornar ao seu habitat, servir esses animais como ‘presas vivas’ para predadores como cobras, por exemplo. Essa é uma –das inúmeras- práticas corriqueiras adotadas pelo IBAMA.

Quanto às difíceis condições que os animais enfrentam diariamente na natureza, apenas uma mudança legislativa não fará diferença significativa. Devemos divulgar valores antiespecistas para o maior número possível de pessoas, para que a situação dos animais na natureza seja mudada. Destacamos que quanto mais antiespecista for a sociedade, mais os interesses do seres sencientes serão considerados.

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