Especismo e Política – Uma breve análise sobre declarações na campanha de Lula*

 

*O presente texto foi escrito por um colaborador do Observatório Antiespecista. O site Observatório Antiespecista apoia integralmente as declarações aqui feitas e convida você a compartilhar esse apelo. Compartilhe com sua família, em suas redes sociais, mande esse texto para seu deputado. Vamos fazer a diferença! Por uma sociedade sem especismo!

 

 

Olá, caro brasileiro!

Sou eleitor do Lula, de esquerda, estudante de filosofia e estou fazendo todo o possível (em meu pequeno círculo social) para derrotarmos Bolsonaro e a direita.

Todavia, gostaria de fazer uma crítica que considero importante – na verdade crucial – sobre declarações insistentes e preocupantes feitas pelo candidato Lula – a quem admiro e reconheço sua boa índole quando o assunto é o melhor para os brasileiros.

O ser humano é imperfeito por natureza. Muitas vezes podemos nos enganar -ainda mais quando o assunto a priori parece ser somente de cunho pessoal- mas quando bem analisado, é conjectural sobre todos nós.

Lula falou repetidamente sobre seu gosto por churrasco. Muitas dessas declarações foram metafóricas, ou seja, Lula quis dizer que todos os brasileiros possam voltar não apenas a fazer três refeições ao dia, mas que possam se alimentar bem, voltando a desfrutar dos prazeres básicos da vida. Não é a isso que me refiro: gostaria de fazer uma crítica construtiva sobre o insistente reforço do churrasco e os ‘bois em confinamento’ -um grande equívoco conceitual, quando pensado coletivamente.

Defensores do ambientalismo deveriam repudiar o confinamento de gado, já que tal prática traz o pior resultado possível para o meio ambiente. O confinamento de animais já provou ser um completo desastre, pois gera uma quantidade gigantesca de resíduos, metano e contaminação dos lençóis freáticos. Qualquer visão séria e estratégica jamais defenderia esse modelo de produção.

Muito se fala em produção “sustentável” – e não há nada mais insustentável- economicamente, ambientalmente e eticamente – que a produção que se utiliza dos animais enquanto meros recursos. A alienação e reificação com que tratamos não somente a nós mesmos, mas sobretudo os animais, gera uma quantidade gigantesca de sofrimento. Os animais sofrem de maneira descomunal, sendo tratados como objetos que nada sentem; meros recursos que servem unicamente para satisfazer propósitos humanos.

Para piorar o quadro, qual é a reprodução social que melhor exibe a visão conservadora da sociedade? A pecuária e o agronegócio. Nesse meio, a única motivação é o capital, sendo que nada mais importa – tudo e todos são meros meios para acumulação e concentração ainda maior do capital.

É essa “elite” que Lula elogiou. Essas mesmas pessoas estão depositando seu apoio quase que incondicional em Bolsonaro. Caso não seja impedido, Bolsonaro seguirá destruindo tudo ao seu redor, devastando o país a fim de beneficiar seus apoiadores do agronegócio.

No sentido inverso, qual luta pode realmente modificar essa mentalidade? O antiespecismo. Essa sim é uma luta progressista, que desafia a reificação de maneira enérgica, trazendo para o debate não somente esse modelo de produção absurdo, mas os valores que nos fazem cada vez menos solidários e mais indiferentes à dor do outro -principalmente dos animais, a quem negamos até mesmo a capacidade de sentir em prol da manutenção de um sistema que transforma esses indivíduos em escravos.

Poderia falar por dias a fio sobre os já comprovados benefícios de uma dieta vegana para a saúde. Poderia também discorrer sobre como uma sociedade majoritariamente vegana aliviaria de maneira significativa o SUS, já que uma melhor alimentação implicaria em uma quantidade muito menor de ocorrências envolvendo problemas crônicos de saúde – e até mesmo de certas doenças. Poderia também evocar a questão econômica, já que uma alimentação à base de proteínas vegetais é absurdamente mais barata -basicamente são grãos- e exige uma quantidade muitíssimo menor de recursos.

Poderia também colocar na mesa a questão política, pois todos sabemos como o capitalismo é um sistema totalmente irracional, gerando absurdos como:

– 1 kg de carne precisa de cerca de 15.400 LITROS de água para ser produzida;  (1 kg de açúcar: 1.782 litros de água; 1 kg de arroz:  2.497 mil litros de água)

– A Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu um alerta sobre a pecuária ser o setor que mais polui as águas do mundo de maneira irreversível;

– Que a Amazônia está sendo devastada muita gente sabe, mas já te contaram que 91% do seu desmatamento é causado pela pecuária, segundo dados do IBGE? (o debate não é sobre PECUÁRIA INTENSIVA X PECUÁRIA “VERDE”) mas sobre a PECUÁRIA EM SI.

Mas a verdade é que esses dados, embora sejam todos verdadeiros, importam apenas de forma marginal. O principal problema com as declarações do candidato Lula reside no fato de que tais falas reforçam a ideia de que animais são coisas que existem apenas para servir aos nossos interesses. Os animais não humanos são diariamente, constantemente vilipendiados. Não é que seu sofrimento é negado; é muito pior que isso: tal discurso nega aos animais não humanos o reconhecimento de que são capazes de sentir – sofrer e desfrutar. Ao retirar a capacidade de sentir, tudo que resta é “alguma coisa”, não “alguém”. Não precisamos nos preocupar com o bem estar de “alguma coisa”. Não precisamos ter consideração moral para com “alguma coisa”. “Alguma coisa” pode ser usada e manipulada da maneira que quisermos, para atingir qualquer propósito, pois “alguma coisa” não sente, não sofre, não é um indivíduo. Negar o status de “alguém” aos animais não humanos é a maneira mais eficiente – e também a mais chula, a mais baixa- de manter o status quo às custas do sofrimento deles. Transformar “alguém” em “coisa” significa disseminar a indiferença, transformando o absurdo, o abominável, o grotesco em “um mal necessário”, “aceitável” ou até mesmo “em um bem”.

Poderia trazer muitos mais argumentos, estudos e informações. Mas o objetivo aqui é apenas que tal questão seja levada ao candidato Lula e seus assessores. Não estou fazendo disso um debate PESSOAL ou MORAL -embora também o seja, já que estamos falando da desconsideração moral, seja parcial ou total, de um número esmagador de indivíduos sencientes. No presente momento, a maior urgência é demonstrar que as declarações proferidas por Lula ajudam na validação de uma realidade horrenda, onde tudo que existe é dor e sofrimento. Repensar tais declarações é um passo não apenas importante, mas necessário para um BRASIL E UM MUNDO MELHOR. O antiespecismo é apenas mais uma das causas da esquerda mas, infelizmente, com esse discurso, Lula está ajudando justamente aqueles que estão do outro lado da luta. Um mundo construído às custas do sofrimento dos animais não será um mundo melhor. Pelo contrário: se naturalizarmos a noção de que certos indivíduos são melhores que outros, tudo que seremos capazes de produzir é horror e sofrimento de uma maioria que sustenta as benesses de uma minoria.

O especismo é uma opressão tão disseminada e tão fortemente naturalizada que dar o primeiro passo para combatê-lo é tão urgente quanto difícil. Como a questão da exploração animal já está posta, podemos muito bem começar por ela -embora o especismo se estenda para muito além do horizonte da exploração animal. Poderíamos pleitear investimentos em proteínas vegetais -hoje existem tecnologias capazes de reproduzir qualquer sabor: peixe, frango, carne, atum, etc.  

 

 Faço um APELO, por favor pensem nisso.

 Abraços e juntos pelo 13

 

Insetos são sencientes

 

Os insetos estão entre os grupos mais abundantes de animais terrestres. Devido a isso, qualquer visão preocupada com a consideração moral dos seres sencientes, especialmente dos que se encontram na natureza, precisa prestar muita atenção à situação desses animais. A senciência dos insetos é objeto de investigação científica em andamento, e há algumas evidências importantes de que eles são sencientes, porque possuem habilidades sensoriais e sistemas nervosos altamente desenvolvidos. Em geral, os insetos vivem vidas complexas e ativas para as quais a senciência pode ser adaptativa. Alguns insetos também mostram um comportamento complexo, como a dança-linguagem das abelhas. Isso sugere que seus cérebros também podem dar suporte à senciência. Se, como essas evidências indicam, eles são sencientes, e, dada a relevância da senciência, seus números absolutos os tornam muito importantes em nossas decisões sobre como melhorar a situação dos animais.

Compreender os fatores atuais e correlatos da abundância de insetos pode ser útil na comparação de diferentes situações em relação à quantidade total de sofrimento dos insetos presente (ou possível) nelas. Consequentemente, também pode ser útil para prever ou medir as consequências de ações que poderíamos tomar que poderiam ser benéficas ou prejudiciais para eles.

O estudo de populações de insetos também pode ser relevante para o estudo do bem-estar de outros animais em diferentes ecossistemas, porque as populações de insetos podem afetar significativamente as outras populações de animais que vivem no mesmo ecossistema. Mas, a principal maneira pela qual os insetos podem contribuir negativa ou positivamente para os níveis gerais de bem-estar em um ecossistema é bastante direta: através de seus próprios níveis de sofrimento ou bem-estar positivo.

O século 20 viu o surgimento de novas formas de criar e matar um número gigantesco de vertebrados com o desenvolvimento das fazendas industriais (primeiro, para animais terrestres, como aves e mamíferos – galinhas e frangos, porcos e vacas – e mais tarde para animais aquáticos como muitas espécies de peixes).
Este século está testemunhando o surgimento de novas formas de criar e matar um número enorme de invertebrados. Isso está acontecendo por meio da expansão da pecuária industrial para a produção de insetos para produtos alimentícios.

 

Fontes:

https://www.animal-ethics.org

https://www.bbc.com

Sacrifício de animais é assassinato, não liberdade religiosa

Torturar e matar um animal seguindo uma determinada liturgia não é liberdade religiosa. É a garantia de legitimidade para a tortura e o assassinato. Dito de outra forma: a liberdade religiosa não pode ser usada como um “passe livre” para que a discriminação e a injustiça ocorram sem nenhum tipo de cerceamento.
Infelizmente, há um número cada vez maior de ativistas da causa animal que defendem o uso de animais em rituais religiosos, por acharem que não devem interferir na “liberdade do exercício religioso”.
Esses ativistas não levam em conta o interesse em não sofrer e o interesse em viver do animal. Se aquele que é sacrificado fosse um ser humano, ainda aceitaríamos o argumento da liberdade religiosa? Acharíamos legítimo torturar e matar um ser humano para cumprir certas liturgias religiosas?
Se formos honestos, a resposta será “não”. Logo, tratar os animais não humanos de maneira diferente ou desfavorável, sendo que sua capacidade de sofrer e de serem prejudicados é igual a nossa, é uma forma de discriminá-los.

Ambientalismo não é a mesmo que defender os animais

A consideração pelos animais e o ambientalismo frequentemente são confundidos. Não é incomum que muitas pessoas, incluindo defensores dos animais, apoiem o ambientalismo por acreditarem equivocadamente que este tem como meta beneficiar os animais.
Entretanto, o que essas pessoas não sabem é que esses dois tipos de visão partem de fundamentos opostos. A defesa dos animais é centrada na consideração pelos indivíduos sencientes, isto é, pelos seres capazes de sofrer e desfrutar. Já o ambientalismo defende que certas entidades não sencientes são dignas de consideração moral direta (e não, enquanto recurso para os seres sencientes). Como está claro, muito frequentemente, essas metas conflitam na prática.
O trabalho mais minucioso e completo que conheço sobre a oposição entre consideração pelos animais e ambientalismo é “El conflicto entre la ética animal y la ética ambiental: bibliografía analítica”, de Daniel Dorado. O autor analisou 347 artigos que tratam do tema, de ambos os lados. Vale muito a pena ler. Felizmente, o trabalho está disponível online e pode ser lido no link a seguir:
https://e-archivo.uc3m.es/bitstream/handle/10016/21496/conflicto_dorado_tesis_2015.pdf?fbclid=IwAR3mTwAROAmyNoPtJH4Zpl53GMfPWed5EYuzNjmlqSRGFT8UUEejHsjdbII

Por trás de cada bife, de cada costela, houve um ser, um indivíduo, que sentiu, amor, sentiu felicidade e medo antes de morrer!

Carne não é comida! É um corpo em decomposição de um indivíduo!

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Especismo e as lutas por causas humanas

 

Por vezes os defensores dos animais são acusados de especismo por não estarem, simultaneamente, a lutar por causas humanas. De acordo com essa acusação, rejeitar o especismo implicaria atribuir o mesmo peso a cada causa, independentemente de ela lutar por animais humanos ou não humanos.

                     

Essa acusação parte de um entendimento equivocado do que é o especismo, que é uma discriminação contra indivíduos, não contra causas. Rejeitar o especismo implica dar o mesmo peso a níveis de prejuízos e benefícios similares em indivíduos de espécies distintas. Isso não implica que todas as causas sejam igualmente importantes, pois diferentes causas lidam com problemas que afetam quantidades de vítimas diferentes, que padecem de sofrimentos de diferentes magnitudes, que são negligenciadas em maior ou menor grau etc.
Se o objetivo é rejeitar o especismo, então é útil imaginar quais causas priorizaríamos se não soubéssemos a espécie das vítimas. Dificilmente alguém discordaria que, quanto maior o número de vítimas, quanto mais elas sofrem individualmente, e quanto mais negligenciado for o problema, mais fortes as razões para priorizar a causa que lida com o problema em questão. Entretanto, de acordo com esses critérios, deveríamos dar uma alta prioridade a tentar melhorar a situação dos animais não humanos. Não porque são animais não humanos, mas porque sua situação satisfaz melhor todos aqueles critérios. Vejamos:
Quantidade de vítimas. Levando em conta somente a quantidade de vertebrados mortos anualmente (3 trilhões [1]), isso já significa que são mortos por dia mais de 8 bilhões de animais não humanos (isto é, mais do que a população humana inteira). Se adicionarmos os invertebrados sencientes a quantia é gigantescamente maior (podendo chegar a 29 trilhões de mortes anuais [2]). Além disso, ao contrário da crença comum, a maior parte dos animais na natureza nasce para ter vidas repletas de sofrimento e têm mortes muitíssimo prematuras [3]. Não há estatísticas sobre isso mas sabe-se, por exemplo, que a quantidade total de animais sencientes na natureza em um dado momento varia entre 1 e 10 quintilhões de indivíduos [4]. Isso significa que, se fizermos uma analogia com o período de um ano, a população humana representaria no máximo 0,25 segundos do ano (todo o restante seriam animais não humanos).
Dano por vítima. A vasta maioria dos animais não humanos nasce, ou na exploração animal ou na natureza. Em ambos os casos, a norma é nascerem para ter vidas repletas de sofrimento e para terem uma morte bastante prematura, geralmente violenta. Obviamente, existem humanos que nascem para ter vidas repletas de sofrimento e que morrem bastante prematuramente. Entretanto, a norma na vida humana não é que nasçam, por exemplo, sofrendo o que equivalente ao que os animais não humanos sofrem em uma granja industrial.
Grau de negligência. Dada a prevalência do especismo antropocêntrico, a situação dos animais não humanos, apesar de possuir uma escala de dano astronomicamente maior, é muito mais negligenciada. Os humanos já recebem proteções que os animais não humanos não possuem de maneira alguma, há muito mais pessoas lutando por causas humanas e os recursos disponíveis para causas humanas são muito maiores.
Assim, se não soubéssemos a espécie das vítimas, certamente que diríamos que um problema assim mereceria alta prioridade, e que o erro estaria é em exigir que as pessoas que se dedicam a esse problema passassem a se dedicar a outros problemas com escalas de dano muito menores, que já recebem uma quantidade muito maior de recursos e possuem um número muito maior de pessoas engajadas.
Basta ver o que seria dito se os papéis fossem invertidos. Imagine que os animais não humanos estivessem hoje na situação em que se encontram os humanos, e os humanos estivessem hoje na condição dos animais não humanos, e que nessa realidade alternativa a causa animal já contasse com um número muito maior de adeptos do que as causas humanas e recebesse uma quantidade muito maior de recursos. Será que os que acusam os defensores dos animais de especismo diriam que os que lutam pelos humanos nessa situação hipotética estariam a ser especistas? Obviamente que não. Sequer o fazem em nossa realidade, quando os papéis sequer se inverteram. Vejamos:
É interessante observar que normalmente apenas os defensores dos animais é que são cobrados a defenderem causas humanas. Aqueles que se dedicam somente a causas humanas normalmente não são acusados de especismo por não se dedicarem a lutar pelos animais não humanos (acusação que, nesse caso, faria sentido, já que estão negligenciando aquele problema que dariam prioridade se não soubessem a espécie das vítimas). Aliás, mesmo quem não se dedica a causa alguma dificilmente recebe o mesmo tipo de crítica que recebem os defensores dos animais. Isso parece sugerir que, no entender de quem faz a crítica, defender os animais é pior do que não defender ninguém. E isso sugere fortemente também que a acusação de especismo que fazem sobre os defensores dos animais é simplesmente uma forma de disfarçar o seu próprio especismo.
[1] Estatísticas disponíveis em:
[2] Para estatísticas ver: