Sacrifício de animais é assassinato, não liberdade religiosa

Torturar e matar um animal seguindo uma determinada liturgia não é liberdade religiosa. É a garantia de legitimidade para a tortura e o assassinato. Dito de outra forma: a liberdade religiosa não pode ser usada como um “passe livre” para que a discriminação e a injustiça ocorram sem nenhum tipo de cerceamento.
Infelizmente, há um número cada vez maior de ativistas da causa animal que defendem o uso de animais em rituais religiosos, por acharem que não devem interferir na “liberdade do exercício religioso”.
Esses ativistas não levam em conta o interesse em não sofrer e o interesse em viver do animal. Se aquele que é sacrificado fosse um ser humano, ainda aceitaríamos o argumento da liberdade religiosa? Acharíamos legítimo torturar e matar um ser humano para cumprir certas liturgias religiosas?
Se formos honestos, a resposta será “não”. Logo, tratar os animais não humanos de maneira diferente ou desfavorável, sendo que sua capacidade de sofrer e de serem prejudicados é igual a nossa, é uma forma de discriminá-los.

Especismo e as lutas por causas humanas

 

Por vezes os defensores dos animais são acusados de especismo por não estarem, simultaneamente, a lutar por causas humanas. De acordo com essa acusação, rejeitar o especismo implicaria atribuir o mesmo peso a cada causa, independentemente de ela lutar por animais humanos ou não humanos.

                     

Essa acusação parte de um entendimento equivocado do que é o especismo, que é uma discriminação contra indivíduos, não contra causas. Rejeitar o especismo implica dar o mesmo peso a níveis de prejuízos e benefícios similares em indivíduos de espécies distintas. Isso não implica que todas as causas sejam igualmente importantes, pois diferentes causas lidam com problemas que afetam quantidades de vítimas diferentes, que padecem de sofrimentos de diferentes magnitudes, que são negligenciadas em maior ou menor grau etc.
Se o objetivo é rejeitar o especismo, então é útil imaginar quais causas priorizaríamos se não soubéssemos a espécie das vítimas. Dificilmente alguém discordaria que, quanto maior o número de vítimas, quanto mais elas sofrem individualmente, e quanto mais negligenciado for o problema, mais fortes as razões para priorizar a causa que lida com o problema em questão. Entretanto, de acordo com esses critérios, deveríamos dar uma alta prioridade a tentar melhorar a situação dos animais não humanos. Não porque são animais não humanos, mas porque sua situação satisfaz melhor todos aqueles critérios. Vejamos:
Quantidade de vítimas. Levando em conta somente a quantidade de vertebrados mortos anualmente (3 trilhões [1]), isso já significa que são mortos por dia mais de 8 bilhões de animais não humanos (isto é, mais do que a população humana inteira). Se adicionarmos os invertebrados sencientes a quantia é gigantescamente maior (podendo chegar a 29 trilhões de mortes anuais [2]). Além disso, ao contrário da crença comum, a maior parte dos animais na natureza nasce para ter vidas repletas de sofrimento e têm mortes muitíssimo prematuras [3]. Não há estatísticas sobre isso mas sabe-se, por exemplo, que a quantidade total de animais sencientes na natureza em um dado momento varia entre 1 e 10 quintilhões de indivíduos [4]. Isso significa que, se fizermos uma analogia com o período de um ano, a população humana representaria no máximo 0,25 segundos do ano (todo o restante seriam animais não humanos).
Dano por vítima. A vasta maioria dos animais não humanos nasce, ou na exploração animal ou na natureza. Em ambos os casos, a norma é nascerem para ter vidas repletas de sofrimento e para terem uma morte bastante prematura, geralmente violenta. Obviamente, existem humanos que nascem para ter vidas repletas de sofrimento e que morrem bastante prematuramente. Entretanto, a norma na vida humana não é que nasçam, por exemplo, sofrendo o que equivalente ao que os animais não humanos sofrem em uma granja industrial.
Grau de negligência. Dada a prevalência do especismo antropocêntrico, a situação dos animais não humanos, apesar de possuir uma escala de dano astronomicamente maior, é muito mais negligenciada. Os humanos já recebem proteções que os animais não humanos não possuem de maneira alguma, há muito mais pessoas lutando por causas humanas e os recursos disponíveis para causas humanas são muito maiores.
Assim, se não soubéssemos a espécie das vítimas, certamente que diríamos que um problema assim mereceria alta prioridade, e que o erro estaria é em exigir que as pessoas que se dedicam a esse problema passassem a se dedicar a outros problemas com escalas de dano muito menores, que já recebem uma quantidade muito maior de recursos e possuem um número muito maior de pessoas engajadas.
Basta ver o que seria dito se os papéis fossem invertidos. Imagine que os animais não humanos estivessem hoje na situação em que se encontram os humanos, e os humanos estivessem hoje na condição dos animais não humanos, e que nessa realidade alternativa a causa animal já contasse com um número muito maior de adeptos do que as causas humanas e recebesse uma quantidade muito maior de recursos. Será que os que acusam os defensores dos animais de especismo diriam que os que lutam pelos humanos nessa situação hipotética estariam a ser especistas? Obviamente que não. Sequer o fazem em nossa realidade, quando os papéis sequer se inverteram. Vejamos:
É interessante observar que normalmente apenas os defensores dos animais é que são cobrados a defenderem causas humanas. Aqueles que se dedicam somente a causas humanas normalmente não são acusados de especismo por não se dedicarem a lutar pelos animais não humanos (acusação que, nesse caso, faria sentido, já que estão negligenciando aquele problema que dariam prioridade se não soubessem a espécie das vítimas). Aliás, mesmo quem não se dedica a causa alguma dificilmente recebe o mesmo tipo de crítica que recebem os defensores dos animais. Isso parece sugerir que, no entender de quem faz a crítica, defender os animais é pior do que não defender ninguém. E isso sugere fortemente também que a acusação de especismo que fazem sobre os defensores dos animais é simplesmente uma forma de disfarçar o seu próprio especismo.
[1] Estatísticas disponíveis em:
[2] Para estatísticas ver:

Abate é um eufemismo para assassinato

O abate halal tradicional é realizado sem o atordoamento do animal antes de o sangrarem até a morte, degoloando-o.
O sofrimento, a tortura e o assassinato do animal não são levados em conta quando o assunto é sacrifício religioso. Se alguém degola um animal na rua, é preso por crueldade animal. O mesmo animal ser degolado dentro de um espaço “sagrado”, é livre exercício da prática religiosa. Para o animal, o sofrimento e a morte são idênticos em ambos os casos.
Considerar moralmente os animais significa SEMPRE levar em conta seu interesse em não sofrer, em desfrutar a vida, em viver. Não há como defender os animais de maneira séria aceitando meio-termos ou exceções. Sofrimento é sofrimento.

A analogia entre holocausto, racismo e especismo está correta?

Por vezes é dito que o especismo não deveria ser comparado ao racismo, pois há humanos que se sentem ofendidos com tal comparação.
Entretanto, uma coisa óbvia que por vezes passa despercebida: o fato de alguém se sentir ofendido com certa afirmação não mostra que possui justificativa para se sentir ofendido. Muito menos mostra que os casos comparados em questão não são realmente análogos. E é justamente isso o que esse tipo de posição visa impedir: ao se afirmar que uma afirmação não deve ser dita só porque há quem se ofenda com ela, o que se faz é tentar impedir o debate sobre se a afirmação é plausível ou não (talvez porque não possuam bons argumentos para defender sua posição).
Se o mero fato de alguém se sentir ofendido com certa afirmação fosse suficiente para tornar errado fazê-la, então quase nenhuma comparação ou crítica poderia ser feita, pois quase sempre há quem se sinta ofendido. O fato de alguém se sentir ofendido não implica automaticamente que tenha justificativa para se sentir ofendido. Os racistas e sexistas também se sentem ofendidos com a defesa de que humanos deveriam receber igual consideração independentemente de raça e gênero. Mas, isso não implica que, então, a igualdade racial ou de gênero esteja errada.
Por vezes é dito que defender a igualdade para os animais não humanos é errado porque quem se sente ofendido por vezes pertence a grupos humanos discriminados. Mas, novamente, isso não seria aceito se humanos fossem as vítimas. Imaginemos que um homem se sinta ofendido com a reivindicação de que as mulheres deveriam receber igual consideração, e que esse homem não só pertença a um grupo discriminado, como ele próprio sofreu discriminação a vida inteira. Isso não torna errado reivindicar que mulheres devam receber igual consideração.
Se as pessoas pensam diferente no caso da defesa da igual consideração para animais não humanos, isso é simplesmente um caso de especismo, onde um interesse menor de humanos (não ouvir certa comparação – comparação que, aliás, pode estar muito correta) recebe maior peso do que o sofrimento e as vidas dos animais não humanos.

 

 

 

Veganismo & Antiespecismo: Qual a diferença?

Por que ser vegano é uma condição necessária -mas não suficiente- para ser antiespecista?

Por Observatório Antiespecista

30 de janeiro de 2022

Atualizado em 8 de junho de 2022

 

Podemos afirmar sem receios que todo movimento antiespecista engloba o veganismo, mas o contrário não decorre necessariamente: nem todo movimento ou pessoa vegana é necessariamente antiespecista.

É perfeitamente possível ser vegano e, ao mesmo tempo, apoiar algum tipo de exploração animal. Existem veganos que defendem a experimentação animal; outros defendem a tortura e o sacrifício de animais em rituais religiosos e existem até mesmo veganos que são contra a ajudar os animais selvagens na natureza.

É importante que os conceitos de veganismo e especismo estejam bem cristalizados para que a discriminação sofrida diariamente pelos animais não apenas piore, mas se torne socialmente justificada e institucionalizada.