Especismo e priorização de causas

Especismo e priorização de causas

Autor:

Luciano Carlos Cunha[1]

 

 

  1. A acusação de que defensores dos animais seriam especistas “anti-humanos”

 

Os defensores dos animais são frequentemente criticados por lutarem pelos animais não humanos enquanto há ainda humanos necessitando de ajuda. Essa crítica tradicionalmente era feita por quem defendia declaradamente uma posição antropocêntrica[2]. Entretanto, uma crítica similar por vezes tem sido feita por quem afirma dar igual consideração aos animais não humanos. Segundo essa nova crítica, os defensores dos animais estão justificados a lutar pelos animais, mas apenas se lutarem simultaneamente por causas humanas[3].

A partir da década de 1970 um número cada vez mais crescente de autores[4] questionou a pressuposição de que o bem dos humanos deveria ter um peso maior, observando o quão arbitrário é dar peso diferenciado a níveis equivalentes de prejuízos e benefícios, dependendo da espécie dos indivíduos. Foi então criado o conceito de especismo[5], para fazer uma analogia com o racismo. Rejeitar o especismo implica aceitar que a força das razões para evitar prejudicar e para buscar beneficiar deve depender da magnitude dos prejuízos e benefícios, e não da espécie dos afetados[6].

A forma mais comum de especismo é a antropocêntrica[7], que desfavorece quem não pertence à espécie humana. É por causa do especismo antropocêntrico que os animais não humanos são explorados para os mais diversos fins, onde geralmente levam uma vida de intenso sofrimento[8] e literalmente vários trilhões deles são mortos a cada ano mundialmente[9]. Esse é também o motivo pelo qual os animais não humanos normalmente não recebem ajuda quando afetados por processos naturais como fome, sede, doenças e desastres naturais[10] Em resumo, é devido ao especismo antropocêntrico que os animais não humanos passam por situações terríveis que jamais seriam consideradas aceitáveis se as vítimas fossem humanas.

Cada vez mais pessoas e grupos de ativismo têm se autoproclamado antiespecistas[11]. Entretanto, algumas dessas pessoas e grupos afirmam que têm se dedicado a combater o especismo dos próprios defensores dos animais. No entender dessas pessoas, os defensores dos animais seriam especistas “anti-humanos” por não se dedicarem simultaneamente para causas humanas[12]. Curiosamente, enquanto antes quem criticava os defensores dos animais com afirmações como “por que se preocupar com animais enquanto há humanos precisando de ajuda?” era quem defendida abertamente o antropocentrismo, agora quem faz uma crítica similar, afirmando que os defensores dos animais só podem defender os animais se também lutarem por causas humanas, são pessoas que afirmam que rejeitam o especismo.

Neste artigo defenderei que a acusação de que os defensores dos animais são especistas “anti-humanos” surge de um entendimento completamente equivocado do que é o especismo. Importante: o que defenderei não é que é impossível existir especismo “anti-humanos”, e sim, que se dedicar integralmente para a causa animal não é uma atitude desse tipo. Defenderei também que, para alguém considerar errado priorizar defender os animais não humanos, precisa ter uma postura especista antropocêntrica.

 

  1. Por que a acusação parte de um entendimento equivocado do que é especismo

 

A  acusação de que os defensores dos animais estariam a ser especistas “anti-humanos” por não se dedicarem simultaneamente a lutar por causas humanas surge de um entendimento equivocado do que é o especismo. O especismo é uma discriminação contra indivíduos, não contra causas. Alguém é especista se dá um peso maior ou menor a níveis de prejuízos e benefícios similares em indivíduos de espécies distintas. Isto é, rejeitar o especismo requer dar peso igual ao bem de cada ser senciente, independentemente de espécie. Entretanto, disso não se segue que todas as causas são igualmente importantes. Pelo contrário. Diferentes causas lidam com problemas que afetam quantidades de vítimas diferentes, que estão padecendo de sofrimentos de diferentes magnitudes, apresentam taxas de mortalidade diferentes, etc. Além disso as diferentes causas são causas negligenciadas em maior ou menor grau (seja em termos do número de ativistas, seja em termos da quantidade de recursos).

É por essa razão que quem se dedica integralmente para a causa animal não está a ser especista. Pelo contrário: como veremos nos próximos itens, é exatamente isso o que concluiríamos se não soubéssemos a espécie dos afetados. Imaginemos que rejeitamos o especismo e nos preocupamos em mesma medida com cada um dos seres sencientes afetados por nossa decisão. Em quais critérios poderíamos nos basear para escolher quais causas priorizar? Uma estrutura bastante utilizada nesse sentido é a que junta três critérios[13]: escala de dano (quanto mais grave o problema, maior a prioridade – normalmente medida em termos da quantidade de vítimas e da gravidade da situação das vítimas), grau de negligência (quanto mais negligenciado o problema, maior a prioridade) e grau de tratabilidade (quanto mais tratável, maior a prioridade). A seguir, avaliaremos o problema que a causa animal lida de acordo com esses critérios, comparando com a situação humana.

 

  1. A quantidade de vítimas

 

Contabilizando as mortes de vertebrados e invertebrados, terrestres e aquáticos, a exploração animal mata anualmente algo entre 9 e 25 trilhões de animais não humanos[14]. Observe que esse número diz respeito somente às mortes de animais na exploração. Não estão computadas as que são resultado indireto de atividades humanas nem as que resultam de doenças, sede, fome, desastres naturais etc. Já as mortes anuais de humanos (somando-se todas as causas, incluindo causas naturais) é estimada em 55,3 milhões[15]. A diferença entre esses números é tão gigantesca que a maioria de nós tem dificuldade em visualizá-la. Para efeito de argumentação, deixemos de lado a quantidade de invertebrados terrestres mortos e computemos apenas a quantidade de mamíferos, aves, peixes e outros animais aquáticos mortos anualmente: cerca de 3 trilhões[16]. Só essa quantia já significa que são mortos por dia mais de 8 bilhões de animais não humanos. Isto é: somente na exploração animal, por dia morre uma quantidade maior de animais não humanos do que a população humana mundial. Se adicionarmos os invertebrados terrestres, a quantia é gigantescamente maior.

Além disso, há as mortes de animais que vivem fora do controle direto humano (como os animais que estão na natureza). Esses animais por vezes sofrem e morrem por conta de fatores parcialmente antropogênicos, mas quantidades literalmente astronômicas desses animais possuem vidas repletas de sofrimento e morrem prematuramente já por conta dos próprios processos naturais (doenças, fome, sede, desastres naturais etc.)[17]. Um fator crucial para esse resultado é o fato de a maioria das espécies de animais se reproduzir maximizando a quantidade de filhotes, sendo que a vasta maioria morre logo após o nascimento. Em ninhadas que variam de milhares a milhões de filhotes (algo comum em anfíbios, répteis, peixes e invertebrados em geral), em populações estáveis a média de sobreviventes por ninhada é apenas de dois indivíduos. Todo o restante normalmente nasce apenas para experimentar sofrimento e morrer logo em seguida[18]. Não há estatísticas sobre essa quantidade de mortes mas sabe-se, por exemplo, que a quantidade total de animais sencientes na natureza em um dado momento está entre 1 e 10 quintilhões de indivíduos[19]. Isso significa que, se compararmos a população de animais não humanos com a população humana em um dado momento, e fizermos uma analogia com o período de um ano, a população humana representaria no máximo 0,25 segundos (todo o restante seriam animais não humanos).

 

  1. A gravidade da situação das vítimas

 

A vasta maioria dos animais não humanos nasce, ou na exploração animal ou na natureza. Em ambos os casos, a norma é nascerem para ter vidas repletas de sofrimento (em boa parte dos casos, sem nunca ter experiência positiva alguma) e para terem uma morte bastante prematura, geralmente extremamente dolorosa. É claro, existem humanos que têm vidas repletas de sofrimento, morrem prematuramente e que tem mortes muito dolorosas. Entretanto, a norma na vida humana não é que nasçam, por exemplo, sofrendo o que equivalente ao que sofrem os animais não humanos explorados ou que estão na natureza.

Peguemos como exemplo a situação dos animais usados para consumo[20]. As fazendas industriais estão organizadas para criar o maior número possível de animais no menor espaço possível e com o menor custo possível. A maioria dos animais não têm espaço algum para se mover. Muitos nem conseguem se virar. Vivem em pisos de concreto ou em grades, continuamente sobre os seus excrementos, o que lhes ocasiona várias doenças e ferimentos. As galinhas poedeiras, por exemplo, vivem amontoadas em gaiolas superlotadas, em um espaço do tamanho de uma folha de papel[21]. Permanecem de pé a vida inteira sobre os arames das gaiolas. Em alguns casos, seus pés ficam presos na malha metálica e, ao serem retiradas para serem encaminhadas ao matadouro, suas pernas quebram e uma parte delas é arrancada. Os frangos criados para a produção de carne foram geneticamente selecionados para crescerem muito rapidamente[22]. Suas pernas não suportam seu peso, o que lhes causa lesões e dor, sendo que vários nem conseguem ficar de pé. Dadas as condições de superlotação, nas fazendas as doenças podem se espalhar rapidamente, dando origem a epidemias. Quando isso acontece, é comum a matança em massa de animais, incluindo dos saudáveis, mesmo quando é possível tratá-los (pois isso é mais caro do que matá-los e substituí-los por novos). Isso geralmente é feito enterrando os animais vivos e cobrindo-os com cal virgem[23].

As porcas exploradas para fins de reprodução ficam quatro meses confinadas em minúsculas caixas de metal com piso de ripas. Elas não podem nem mesmo se virar, e só podem se deitar ou se levantar com grande dificuldade[24]. Seus músculos e articulações são gravemente lesionados e elas literalmente enlouquecem por nunca poderem se mover. Quando os leitões são desmamados (a partir de três semanas de idade) elas são novamente engravidadas e o ciclo recomeça até que tenham três anos, quando são então mortas.

As vacas só produzem leite após darem à luz. Por isso, são engravidadas continuamente, geralmente por inseminação artificial. Os produtores não querem que os bezerros bebam o leite, pois diminuiria os lucros. Então, mães e bebês são separados logo após o nascimento, o que é terrivelmente traumático para ambos, que choram e gritam por vários dias. As vacas são ordenhadas por 10 meses após serem separadas de seus  bebês. Depois são engravidadas novamente e o ciclo é repetido até que estejam completamente exaustas, e são então mortas.

Os bezerros usados para produzir “vitela” vivem em gaiolas minúsculas nas quais nem mesmo podem se virar. Suas cabeças são imobilizadas para que não possam exercitar seus músculos, com o objetivo de tornar sua carne o mais macia possível. Por isso, são alimentados com fórmulas com baixo teor nutricional, tornando-os tão fracos que nem mesmo conseguem andar quando são enviados para serem mortos[25]. Já os filhotes machos de galinhas poedeiras não são criados para serem comidos, pois não cresceriam tão rápido quanto aqueles selecionados para esse fim. São então jogados em uma máquina de trituração ou em uma lata de lixo, onde morrem asfixiados ou esmagados pelos outros filhotes jogados sobre deles.

As galinhas têm seus bicos cortados com lâminas quentes. Os leitões têm seus dentes arrancados e as caudas cortadas. Os bois e touros tem seus chifres serrados ou queimados com produtos cáusticos. Todos os mamíferos são marcados com ferros quentes e têm arrancados pedaços de seus corpos (como partes das orelhas). Tudo isso é feito sem analgésicos ou anestesia, pois custaria dinheiro sem aumento na produtividade.

No transporte até o matadouro, são colocados nos caminhões usando espetos, martelos e bastões que dão choques elétricos. As aves são içadas como se fossem coisas, geralmente segurando-as pelas pernas e jogando-as nas gaiolas, o que faz com que muitas vezes tenham pernas e ossos quebrados[26]. As condições de superlotação nos caminhões são piores até mesmo  do que nas fazendas. Além disso, são expostos ao calor ou frio extremos e não recebem nenhuma comida ou água, pois fazê-lo não seria lucrativo. Vários animais morrem antes de chegarem ao seu destino, o que mostra o quanto sofreram[27].

Chegando no abatedouro, recebem golpes com estacas para que se movam pelos corredores. Quando não conseguem andar, são arrastados com ganchos cravados em diferentes partes dos seus corpos, que por vezes rasgam essas partes. Além disso, podem ver e ouvir outros animais sendo mortos e sentir o cheiro de seu sangue. Depois de serem atordoados são acorrentados pelas pernas e içados do chão, o que por vezes quebra suas pernas. Entretanto, como as filas de animais nos matadouros precisam se mover rapidamente, esse processo é feito em alta velocidade, e então é comum que os animais não fiquem atordoados e estejam plenamente conscientes ao serem esfaqueados. Além disso, muitas vezes o esfaqueamento não os mata, e então são esquartejados, fatiados, tem a pele arrancada ou são fervidos enquanto ainda estão totalmente conscientes[28]. Esse destino aguarda todos os animais usados na alimentação, independentemente de terem sido criados em fazendas industriais ou em fazendas “de criação livre”.

Na pesca, o anzol perfura a boca ou outras partes do corpo e, ao arrastar o peixe para fora da água, puxa todo o peso de seu corpo, perfurando de modo cada vez mais profundo e rasgando cada vez mais a parte do corpo onde foi cravado[29]. As formas mais comuns pelas quais os animais pescados morrem são[30]: porque seus órgãos internos explodem devido à descompressão;  sufocamento; tendo seus corpos cortados enquanto ainda estão conscientes; esmagamento devido ao peso dos outros animais empilhados ou presos nas redes; golpes na cabeça; eletrocussão; hipotermia; envenenamento por dióxido de carbono ou um tiro na cabeça. Outros são cozidos vivos ou até mesmo comidos vivos[31].

Devido ao especismo antropocêntrico, isso é feito a bilhões de animais não humanos todos os dias e é considerado algo plenamente aceitável. Se não soubéssemos a que espécie pertencem as vítimas, certamente consideraríamos tal situação como sendo uma forte candidata a receber nossa prioridade. Somente o especismo antropocêntrico pode fazer alguém pensar que as pessoas que se dedicam a lutar contra esse tipo de horror devem ser repreendidas por não estarem, ao mesmo tempo, abordando outros problemas que possuem uma escala de dano muito menor e são muito menos negligenciados.

 

  1. Grau de negligência

 

A quantidade de pessoas se dedicando a cada causa e os recursos arrecadados não são proporcionais à escala de dano do problema que cada causa lida. Por exemplo, de todas as doações feitas nos Estados Unidos, 97% do montante arrecadado vai para causas humanas[32]. Os outros 3% restantes vão para causas ambientalistas e de defesa animal (e não se sabe o quanto desses 3% vai para a causa animal). Mesmo entre as pessoas que costumam doar para a causa animal, em média mais de dois terços de suas doações vão para causas humanas[33]. Como observado por Horta (2017, p. 187), existem pessoas que, apesar de serem veganas, acreditam que os humanos devem vir em primeiro lugar. Envolvem-se em causas humanas, mas não fazem nada (ou fazem muito menos) para defender os animais não humanos. Esse é um exemplo de uma atitude vinda de veganos, mas especista[34]. Em resumo, a luta pelos animais é muitíssimo mais negligenciada do que a luta pelos humanos, apesar de a causa animal lidar com um problema que possui uma escala de dano astronomicamente maior. Isso acontece justamente devido à predominância do especismo antropocêntrico. É por essa mesma razão que os humanos já recebem proteções que os animais não humanos não possuem de maneira alguma, há muito mais pessoas lutando por causas humanas e os recursos disponíveis para causas humanas são vastamente maiores[35]. Não é apenas que os animais não humanos recebem menos ajuda do que recebem os humanos: na vasta maioria dos casos não recebem ajuda alguma e, além disso, são literalmente massacrados como se fossem coisas. Isto é, dada a vigência do especismo antropocêntrico, nascer como membro da espécie humana é ser privilegiado, pois implica receber uma série de proteções; nascer como animal não humano é receber uma sentença de desgraça, pois normalmente implica viver uma vida de sofrimento intenso e ter uma morte bastante prematura.

 

  1. Tratabilidade

 

Poder-se-ia pensar que não há nada que se possa fazer para mudar a situação dos animais não humanos. Mas, isso não é verdade. Em relação aos animais explorados é possível escolher não consumi-los e reivindicar mudanças de atitude no público e na legislação com a meta de abolir esse uso[36]. Já em relação aos animais que estão na natureza, já existem programas de ajuda a animais selvagens, e muito mais poderia ser pesquisado nesse sentido. Exemplos são a vacinação de animais selvagens, ajuda a animais em desastres naturais, estudos sobre o impacto de cada tipo de vegetação nas taxas de nascimentos em espécies de animais que tendem a ter vidas predominantemente negativas ou positivas, ou simplesmente evitar intervenções que contribuem para que os processos naturais prejudiquem os animais[37].

 

  1. Escolhendo causas a partir de uma perspectiva não tendenciosa

 

Se não soubéssemos a que espécie pertencem os afetados por nossa decisão, defenderíamos uma altíssima prioridade da causa animal – não porque ela lida com animais não humanos, mas porque lida com um problema que tem uma escala de dano muitíssimo maior, é altamente tratável e é muito mais amplamente negligenciada[38]. É por essa razão que priorizar essa causa não é uma atitude especista. Pelo contrário: não priorizá-la é que é. Se somos antiespecistas ficaremos indignados é em saber que, devido a uma preferência por humanos, a vasta maioria das pessoas está priorizando causas que lidam com problemas que possuem uma escala de dano muito menor e são muito menos negligenciados.

Um experimento de pensamento ajudará a reforçar essa conclusão. Imagine que os papéis fossem invertidos, isto é, que os animais não humanos estivessem na situação em que se encontram os humanos, e que os humanos estivessem na terrível condição em que se encontram os animais não humanos. Imagine também que, nessa realidade alternativa, os animais já contariam com várias proteções que os humanos não possuiriam, e a causa animal já contaria com um número muito maior de adeptos e receberia uma quantidade muito maior de recursos. Imagine que nesse mundo fictício aquelas poucas pessoas que escolheram ajudar os humanos são acusadas de especismo. Essa acusação seria absurda, pois tais pessoas escolheram ajudá-los não por que são humanos, mas porque nesse mundo fictício os humanos estão em uma situação pior, são uma quantidade de vítimas muito maior, e são muito mais negligenciados. Quem seria especista, nesse mundo fictício, é quem escolhe não priorizar os humanos. Mas, se é assim, então em nosso mundo real priorizar causas humanas é ser especista, assim como é especista acusar de especismo quem prioriza a causa animal, pois condenaríamos tais atitudes se não soubéssemos a espécie dos afetados por essa decisão.

 

  1. Por que mesmo especistas antropocêntricos teriam que priorizar a causa animal

 

Suponhamos que um sofrimento de mesma magnitude importasse 10 vezes mais em humanos do que em animais não humanos. Isso significaria que, para investirmos em ajudar animais não humanos a mesma quantia de recursos que investiríamos em ajudar humanos, teria de haver 10 animais não humanos sofrendo o equivalente (ou então, um único animal não humano sofrendo 10 vezes mais).

Suponhamos agora que a quantidade anual de animais não humanos que passassem por uma situação do sofrimento extremo fosse muito menor do que realmente é: suponhamos que fosse “apenas” um trilhão indivíduos. Imaginemos que a quantidade anual de humanos padecendo de um sofrimento equivalente àquele do qual padecem os animais não humanos fosse muito maior do que realmente é: suponhamos fosse o total da população humana (isto é 7,9 bilhões de indivíduos[39]). Se o sofrimento humano importasse 10 vezes mais do que o sofrimento equivalente de animais não humanos, então, o sofrimento dos 7,9 bilhões de humanos seria multiplicado por 10 (isto é, equivaleria ao sofrimento de 79 bilhões de animais não humanos). O sofrimento de cada animal não humano, por sua vez, seria multiplicado por 1 (isto é, 1 trilhão). Mesmo fazendo todas essas concessões, ainda teríamos de investir 12,65 vezes mais recursos em ajudar os animais não humanos.

Se levarmos em conta os números reais, a proporção é astronomicamente maior. A população mundial de humanos gira em torno de 7,9 bilhões. Já a população mundial de animais não humanos sencientes gira em torno de 1 a 10 quintilhões[40]. Isto é, para cada humano existe algo entre 126 milhões a 1,26 bilhões de animais não humanos sencientes. Vimos que a imensa maioria dos animais não humanos (seja os que nascem na exploração, seja os que nascem na natureza) vivem vidas repletas de sofrimento. Além disso, por mais que seja muito ruim a situação de muitos humanos, a situação da imensa maioria dos animais não humanos é geralmente muito pior do que a situação da maioria dos humanos.

Assim, levando em conta a situação real, para se negar a prioridade de melhorar a situação dos animais não humanos teria que ser postulado que o sofrimento de humanos importa pelo menos 126 milhões de vezes mais do que o sofrimento equivalente de animais não humanos. Mas isso é completamente absurdo. Aliás, de um ponto de vista não tendencioso, não há sequer justificativa para se dar um peso levemente maior ao bem dos humanos: sofrimentos equivalentes precisam receber o mesmo peso.

Poderia ser objetado que não importa o número de vítimas, nem a gravidade da situação de cada vítima, e nem o grau de negligência: cada um está justificado a lutar pela causa que bem entender, ou mesmo não lutar por causa nenhuma. Essa é certamente uma posição altamente questionável. Mas, mesmo que fosse uma posição plausível, observe o que ela implica: que seus adeptos não tem nenhum motivo para criticar quem luta pelos animais por não se dedicarem também para causas humanas.

Em resumo, seja lá que posição adotemos, a crítica aos defensores dos animais não se sustenta. Se rejeitamos o especismo e damos igual peso ao bem de cada ser senciente, segue-se a prioridade da causa animal, pois é o que concluiríamos se não soubéssemos a espécie dos afetados. Se, por outro lado, damos um peso muito maior ao bem dos humanos, também segue-se a prioridade da causa animal, dada a escala de dano astronomicamente maior. Por fim, se afirmamos que cada um está justificado a escolher a causa que bem entender, então não há razão para criticar os defensores dos animais por não lutarem por causas humanas.

 

  1. Por que a acusação é ela própria especista antropocêntrica

 

É de se admirar que pessoas que se dizem antiespecistas estejam a focar em criticar quem se dedica integralmente a defender os animais, quando é justamente o especismo antropocêntrico a razão pela qual uma quantidade astronômica de seres sencientes têm vidas repletas de sofrimento extremo e morrem prematuramente.

É interessante observar que normalmente apenas os defensores dos animais são cobrados a defenderem causas humanas. Aqueles que se dedicam somente a causas humanas normalmente não são acusados de especismo por não lutarem pelos animais não humanos (acusação que, nesse caso, faria sentido, já que estão negligenciando aquele problema que dariam prioridade se não soubessem a espécie das vítimas). Aliás, quem se dedica a determinada causa humana não é cobrado a lutar por outras causas humanas – isso é cobrado especificamente dos defensores dos animais. Cobram das pouquíssimas pessoas que se dedicam ao problema com maior escala de dano e mais negligenciado, que passem a se dedicar para outros problemas com escalas de dano muito menores e muito menos negligenciados, só porque as vítimas desses outros problemas são humanas. Essa atitude, sim, certamente é especista. Aliás, mesmo quem não se dedica a causa alguma dificilmente recebe o mesmo tipo de crítica que recebem os defensores dos animais. Novamente, esse é um exemplo gritante de especismo, pois revela que no entender de quem faz a crítica, ajudar os animais é pior do que não ajudar ninguém.

Além disso, se o foco da crítica são os defensores dos animais por não estarem lutando por causas humanas, isso dá a entender não apenas que os ativistas de causas humanas (e mesmo quem não luta por causa alguma) não fazem nada de errado ao não defenderem os animais: dá a entender também que não fazem nada de errado ao prejudicarem os animais (consumindo-os, por exemplo). Apenas o especismo pode explicar essa disparidade de cobranças. Isso tudo sugere fortemente que a acusação de especismo que fazem sobre os defensores dos animais é simplesmente uma forma de expressar o seu próprio especismo.

 

  1. Conclusão

 

Dado o que vimos, a acusação de que os ativistas da causa animal estariam a ser especistas “anti-humanos” por não se dedicarem simultaneamente à causas humanas é apenas uma variação da visão antropocêntrica que afirma que ninguém deve lutar pelos animais enquanto houver humanos precisando de ajuda. Trata-se de uma variação, pois reconhece que é correto lutar pelos animais, mas apenas se simultaneamente luta-se pelos humanos (mesmo que os humanos já sejam considerados em maior grau, estejam em muito menor número de vítimas, estejam em uma situação muito melhor, já recebam ajuda de uma quantidade imensamente maior de pessoas, mesmo que as causas humanas já recebam muito mais recursos etc.). Obviamente, é essa visão que é especista, pois privilegia tendenciosamente os humanos.

Enquanto a afirmação de que não deve-se lutar pelos animais enquanto houver humanos necessitados surge normalmente de pessoas que se auto declaram antropocêntricas, a acusação de que os defensores dos animais seriam especistas “anti-humanos” surge por parte de pessoas que afirmam rejeitar o especismo (apesar de, como vimos, defenderem igualmente o especismo antropocêntrico). Isso parece mostrar que a estratégia para defender atitudes antropocêntricas mudou. Antes, os defensores do antropocentrismo assim se declaravam, e argumentavam a favor do mesmo. À medida que o antropocentrismo foi cada vez mais sendo reconhecido como injustificável (isto é, que é forma de especismo), seus defensores passaram a dizer que rejeitam o especismo para acusar aqueles que realmente rejeitam o especismo de serem especistas anti-humanos. Independentemente de isso ser feito devido a não terem entendido o que significa ser especista, ou com o propósito deliberado de confundir o público, o resultado é o mesmo.

Essa nova estratégia é mais difícil de ser percebida, pois o interlocutor se apresenta como antiespecista. Além disso, apesar de envolver uma distorção gigantesca dos conceitos de especismo e antiespecismo, como são conceitos ainda pouco conhecidos, há um risco de o público em geral pensar que rejeitar o especismo significa ser especista antropocêntrico. As pessoas que realmente rejeitam o especismo deveriam começar a prestar atenção nessa estratégia pois, para combatê-la, primeiro é necessário perceber que ela existe.

 

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[1] Doutor em Ética e Filosofia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina, coordenador geral das atividades da Ética Animal no Brasil (www.animal-ethics.org/pt). Contato: luciano.cunha@animal-ethics.org

[2] Ver por exemplo a posição de Carruthers (1992).

[3] Ver por exemplo a posição de Souza (2016a, 2016b, 2017a, 2017b, 2020a, 2020b).

[4] Para uma lista, ver O’donnell (1993).

[5] Sobre a definição de especismo e a história desse conceito, ver Horta (2010a).

[6] Sobre essas implicações, ver Cunha (2021a, p. 57-69).

[7] Existem também formas de especismo não antropocêntricas, que constroem degraus de estatura moral entre os animais não humanos. Sobre isso, ver Dunayer (2004, p. 2-4), Horta (2010a, p. 258) e Cunha (2021a, p. 28-30).

[8] Para uma descrição das várias formas pelas quais sofrem os animais explorados, ver Horta (2017, p. 65-98).

[9] Para estatísticas, ver Our World in Data (2018), Fishcount (2019), Sanders (2018), Schukraft (2019) e Rowe (2020, 2021a, 2021b).

[10]Sobre a situação dos animais selvagens, ver Animal Ethics (2020) e Cunha (2022).

[11] Uma busca no Instagram (www.instagram.com) em 19 de setembro 2022 apresentou os seguintes resultados para os termos a seguir (em termos do número de publicações): 133.040 para “#antiespecismo”, 35.422 para “#antiespecista”, 64.170 para “#antispeciesism” 7.009 para “#antispeciesist”.

[12] Por exemplo, Souza (2020a), em uma crítica ao que chama de “veganismo tradicional” afirma que o mesmo “defende que os veganos lutem unicamente pelos animais não humanos, ao ponto de hierarquizar as lutas colocando a antiespecista como superior às contra outras opressões”. No lugar disso, o autor propõe “que as pessoas lutem, na medida do possível para cada uma delas, tanto contra o especismo quanto contra outras formas de opressão”. O autor defende a mesma posição também em Souza (2016a, 2017b).

[13] Sobre essa estrutura, ver EA Concepts (2016) e Cunha (2021, p. 193-228).

[14] Para estatísticas sobre a exploração de invertebrados terrestres, ver Schukraft (2019) e Rowe (2020, 2021a, 2021b). Sobre a exploração de vertebrados e invertebrados aquáticos, ver ver Fishcount (2019). Sobre vertebrados terrestres, ver Our World in Data (2018) e   Sanders (2018),

[15] Estatísticas disponíveis em: https://www.worldometers.info/. Acesso em: 26 out. 2022.

[16] Estatísticas disponíveis em Our World in Data (2018) e em Fishcount (2019).

[17] Sobre isso, ver Animal Ethics (2020, p. 9-59) e Cunha (2022, p. 19-34).

[18] Sobre esse ponto, ver Horta (2010b) e Cunha (2022, p. 28-34).

[19] Ver National Museum of Natural History & Smithsonian Institution (2008) e Tomasik (2019).

[20] Exceto se indicado, a descrição da situação dos animais explorados foi retirada de Horta (2017, p. 65-97)

[21] Appleby e Hughes (1991); European Food Safety Authority (2005).

[22] Weeks e Butterworth (2004); Bessei (2006).

[23] Antena3 (2011); Gayle, D. (2013).

[24] Marchant-Forde (2008).

[25] Van Putten (1982) Le Neindre, P. (1993).

[26] L214 (2009, 2010).

[27] Mitchell (1992); Broom (2003); Averos et. al. (2007).

[28] Warrick (2001); Pitney (2016).

[29] Cooke e Sneddon (2007).

[30] Robb e Kestin (2002).

[31] Robb e Kestin, Ibid.

[32] Kateman (2021).

[33] Anderson (2018, p. 9).

[34] Há veganos que são contrários até mesmo a fazer comparações (em termos de importância moral) da consideração devida a animais humanos e não humanos (por exemplo, são contrários a afirmar que o especismo é tão reprovável quanto o racismo). Por exemplo, Santos, Souza e Nierdele (2021, p. 295) descrevem a posição defendida por um grupo de ativismo vegano: “essa equiparação legitimaria, mesmo que sutilmente, a inferiorização das pessoas negras”. Para outros exemplos de um posicionamento contrário a comparar as discriminações sofridas por animais não humanos e humanos com base na alegação de que isso seria inferiorizar os humanos, ver Souza (2016b, 2017a, 2020b). Para uma defesa da posição contrária, isto é, de que o especismo não é menos injusto do que discriminações contra humanos, ver Cunha (2021b).

[35] Além disso, boa parte dos recursos destinados à causas humanas são utilizados na compra de produtos de origem animal, o que contribui para o aumento da quantidade de animais que sofrem e morrem.

[36] Aqui é possível ver uma análise sobre estratégias possíveis para a causa animal: https://www.sentienceinstitute.org/foundational-questions-summaries

[37] Sobre formas de ajudá-los e o que mais poderia ser pesquisado nesse sentido, ver Animal Ethics (2020, p. 60-85, 136-182; ); Faria e Horta (2020) e Cunha (2022, cap. 8.2 e 9.4).

[38] Exatamente com base nesses três critérios, a Giving What We Can, organização especializada em recomendar doações eficientes, recomenda a causa animal como uma das prioridades mais altas. Ver https://www.givingwhatwecan.org/cause-areas

[39] https://www.worldometers.info/. Acesso em: 26 out. 2022.

[40] Ver Tomasik (2019).

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